Neste mundo actual em que qualquer telefone tem a sua câmara fotográfica (algumas vezes até com flash) regressar ao mundo da película pode parecer absurdo, mas o que para muitos pode ser um passado longínquo, para mim tem sido um presente interessante e um futuro curioso.
A minha chegada ao analógico começou um bocado às avessas. Após ter feito alguma fotografia nocturna com uma câmara digital e objectivas analógicas acabei por comprar uma Carl Zeiss que precisava de reparação.
Este acaso levou-me à Máquinas de outros Tempos onde o Pedro Viterbo me reparou a mesma e eu encontrei um mundo que pensava fora de alcance.
Ao ver que afinal uma revelação não era tão cara quanto eu me lembrava, decidi pegar na Canon FTb-N que já vos falei e ver o que dali saía.
Estava com uma câmara totalmente manual, sem prioridade a nada nem focagem automática que me safasse, onde nem o fotómetro funcionava estava operacional. As expectativas não eram muitas, mas quando vi os primeiros resultados apercebi-me logo que estava perante um novo mundo.
Tinha descoberto uma câmara que me fazia pensar mais, ponderar mais, gerar menos lixo. Com o analógico não saio de casa para regressar mais tarde com 200 imagens de qualidade duvidosa, para depois guardar num disco e nunca mais olhar para elas. É verdade que não aproveito todas as 36 exposições, mas ao abrandar, ao ser forçado a pensar consigo uma taxa de aproveitamento muito superior. As fotos que tinha tirado também eram diferentes, com um aspecto menos asséptico e cores que me puxam mais pelas emoções onde até o ruído, neste caso o grão, passava a ser algo positivo e até desejável.
Desde então experimentei vários filmes e várias câmaras, chegando mesmo a adquirir novos equipamentos e a descobrir novas formas de os utilizar. Sair à rua com uma DSLR atrai uma atenção muitas vezes negativa, com pessoas a retrair-se ou a olhar para nós com má cara, enquanto se utilizamos uma relíquia (Ex: uma TLR) continuamos a atrair olhares, mas junto com esses olhares vem muitas vezes sorrisos de curiosidade por ver tal velharia ainda a mostrar serviço.
Apesar de tudo não deixei de utilizar a minha DSLR e sinto que o percurso pelo analógico me ajudou a pegar nela com mais mestria. Agora já pondero mais quando fotografo, já ignoro o facto de cada foto digital ser virtualmente gratuita e tento trazer o melhor em cada disparo, seja ele eléctrico ou mecânico.